Estrela Grande Trail 48K 2018

Continuando a senda das grandes aventuras e já que ando com vontade de fazer grande e boas provas do circuito nacional ATRP, para não deixar o Claúdio ir divertir-se sem mais na Serra da Estrela e seguindo a observação do João "estás em forma, aproveita" inscrevi-me ou melhor inscreveram-me à última da hora no Estrela Grande Trail. Nada melhor do que 21 dias depois do MIUT, estar de novo envolvido num desafio importante que é enfrentar a mais alta serra de Portugal Continental. Tenho de deixar de entusiasmar-me com conversas antes, durante ou após treinos pois o cérebro não deve estar bem oxigenado quando damos por ela estamos a fazer a mala e a reunir a família para passar o fim de semana em Manteigas. E assim foi caía a noite de sexta-feira, chegados a Manteigas o ambiente já denunciava que alguns corajosos iriam arrancar ás 0h00 para os 109 Km. Nós ainda podíamos jantar tranquilos com a companhia ilustre do Hélio Fumo, confraternizar com desconhecidos e desconhecidas que partilham a mesma paixão e contavam as suas aventuras desta e outras provas. Bem alimentados num restaurante que reúne um misto de pizzaria/cozinha tradicional já a acusar o cansaço da viagem lá fomos dormir que o tempo passa depressa quando se está bem e o descanso é ouro.
Manhã cedinho, mochila devidamente equipada com o material obrigatório, com a alimentação e hidratação necessária para a distância, seguido de pequeno almoço no hotel onde já alguns atletas angariavam energia e eu estreava-me a comer uma sandes de queijo da serra. Reunidos no local de partida com o céu limpo e o sol já a aquecer principalmente aqueles que respeitaram o material obrigatório e alinharam na partida com manga comprida, nunca me arrependi tanto de cumprir. À hora certa arrancamos serra acima em direção ás Penhas Douradas a gerir o esforço pois nestes primeiros 10 km praticamente cumpria-se os primeiros 1000 m de desnível positivo. Depois de atingido o primeiro cume uma pequena descida onde foi possível constatar que também a Serra da Estrela não escapou aos incêndios. Descida até ao Vale Rossim onde o primeiro abastecimento nos aguardava. Repostas as energias e assegurando-me que saía com água suficiente, atravessamos o vale e antes de chegar à Nave Mestra todos começaram a ficar deslumbrados com a visão ao longe de neve que ainda perdurava em meados de Maio. Muitos pararam para fazer fotos, outros vídeos e eu não fugi à regra e segui o exemplo ainda longe de saber que iria pisar muita neve nesse dia e teria muitas mais oportunidades de fotografar. Esse foi o factor novidade, a neve, mas já lá vamos pois nessa altura ia a contemplar a paisagem e nem me apercebi que deveria ter seguido uma bandeirinha com uma viragem a 90 graus à esquerda não fosse um assobio e um grito de um membro da organização ali colocado estrategicamente para que ninguém falhasse a travessia da Nave Mestra. A fenda na rocha pela qual nos fizeram passar, não é própria para claustrofóbicos e é de tal forma estreita que pensei que se inspirasse ficava entalado. Só o alargamento da passagem depois de uma curva de 90 graus à direita e a enorme corrente de ar que se fazia sentir deram sinal para respirar normalmente de novo, desce-se umas escadas esculpidas na pedra e não só (recordações da Madeira) e separam-se as provas. Serpenteando por trilhos e contornando rochas começamos a apanhar trilhos com neve e lama negra, outra estreia. Correr em neve a princípio parecia um misto de patinagem, moonwalking e embriaguez só amparado pelos bastões. A primeira vez que tive contacto com neve tinha sido há 30 anos então este regresso fez-me lembrar quando minha filha iniciou-se a pisar a areia da praia (estranheza, desconfiança e receio). As passagens por neve começaram a surgir com ainda maior frequência entre a Garganta de Loriga e finalmente a subida à Torre é que já lá atrás de vez em quando vislumbrava-se as grandes esferas e antenas da Torre. A subida à Torre foi feita de forma paciente e cuidada pois a paisagem acalma e ainda havia muito desnível positivo para cumprir. Aqui havia ainda mais neve mas também degelo formando ribeiros que seguiam o curso natural, alguns buracos no manto branco deixando perceber a altura que tinha e indicando que o melhor é pisar onde já foi pisado para evitar surpresas potencialmente graves. Quase chegado à Torre o tónico de motivação que já vinha a fazer falta, a Rute e a minha família esperavam ansiosamente pela nossa passagem sentadas sobre a rocha em amena cavaqueira com outra família que ali estava exactamente com o mesmo propósito. Dali a poucos metros estava o abastecimento para mim nada de extraordinário e nada funcional na Torre onde muitos dos 109 K e não só, se aqueciam com comida e bebidas quentes outros ainda aos encontrões que o espaço era pequeno tentavam reabastecer-se para poderem prosseguir. E segui sem grandes demoras, acompanhado pela família que já me procurava à saída do abastecimento, seguimos em passos largos dando conta que estávamos no ponto mais alto de Portugal Continental a 1986 m de altitude indicava o relógio. Elas foram almoçar, nós tínhamos outro petisco para digerir. Dali para frente eram uns bons quilómetros a descer inicialmente com muita altura de neve onde desci com a velocidade e entusiasmo de quem descia as dunas de areia nas férias de verão em Salir do Porto, quem não gostou foi os Akasha que ficaram bastante atrocidados com a brincadeira. Bastante aplaudido por um grupo que me confundiu com outro atleta que envergava as mesmas cores terminei o troço inicial e dali para a frente a neve acabara-se, um pouco de alcatrão para depois descer vertiginosamente por um trilho de pedra e calhau a fazer lembrar o Montejunto com o sol a aquecer cada vez mais quanto mais baixava a altitude. Desci o trilho do major com calma e serenidade pois de um lado rocha, do outro uma altura vertiginosa com vista para o vale Glaciar. Não gosto muito de descer e ali não valia a pena arriscar descer mais rápido pois o risco era maior que a recompensa. Atravessamos o vale quase sempre a descer até chegarmos a um abastecimento de líquidos que marcava o início da próxima subida com "S" grande. Atingido o cume o percurso era feito por estradão, confraternizando com alguns atletas dos 109 K, nesta altura levavam cerca de 60 Km nas pernas e nós nos 30 e muitos, é obra. A ansiedade de chegar começava a apertar e no último abastecimento antes da meta cheirava a churrasco mas não nos tocava a nós, aliviado e devidamente abastecido continuou-se a descida em bom ritmo para no final atingir uma zona um pouco mais técnica e massacrante, onde fui ultrapassado por 2 atletas que mais à frente viriam a perder ritmo seguindo depois uma descida interminável em estrada romana feita em noite de trovoada até chegar de novo a Manteigas. Ao longe já se ouvia o speaker a animar aqueles que ainda aguardavam junto à meta, passei o Hotel onde tínhamos passado a noite e agora era repetir o que já tinha feito a seguir ao pequeno almoço, atravessar a ponte seguir o alcatrão e calçada até ao centro onde estava instalada a meta.

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