Piodão Ultra Trail


Segunda participação em uma ultra maratona, desta vez na bonita região do Piodão. Neste caso não é preciso mesinhas, rezinhas, astros alinhados para garantir a inscrição mas como diz o ditado trail mais fácil de inscrever do que os Abutres mas igualmente difícil de concluir (acabei de inventar). Não pela tecnicidade dos trilhos que também a tem em menor grau, mas pelas subidas intermináveis, corríveis aqui e ali a exigir uma boa gestão de esforço para dar para tudo. Com uma previsão de tempo nada animadora para o dia do evento lá nos concentramos no largo da igreja, um dos ex-libris da vila, surpreendidos por não chover mas com uma temperatura bastante baixa. Estava atormentado por umas dores nas pernas que tinham surgido 2 dias antes após um treino de Fartleck que não incapacitantes, incomodavam e podiam tornar 50Km em 25km ou até menos. Com muito Fisiocreme, alongamentos e a dica de um javali avistado à chegada ao Piodão é melhor ir devagar mas consistente. Lá Partimos atrás e devagar, sem grande aquecimento às 9h da manhã em direção a Chã d'Égua num troço do percurso que não oferece grande dificuldade mas que afunila chegando mesmo a parar devido a uma escadaria que abateu sendo necessário escalar ou ser içado. Escalada feita o pelotão alonga e começam as subidas sem grande inclinação mas que serpenteiam em estradão serra acima num misto de não sei se corra, não sei se ande rápido com muita calma pois estamos apenas a começar. Atingido o primeiro cume toca a descer numa das minhas partes favoritas apesar de não ser fã nem veloz nas descidas gosto bastante até chegar à Malhada Chã, que nos recebe com uma pequena levada e escadarias até no abastecimento. Descansados e abastecidos separamo-nos do percurso dos 25K, as pernas não doeram até aqui, a partir de agora não há como voltar atrás. Arrancamos para mais uma subida interminável ao Picoto Cebola maravilhados com o tempo que fazia e com o desacerto dos meteorologistas pois nada do previsto acontecia o Sol aquecia e nada de chuva para atormentar a tormenta desta subida salvo no topo. Ao chegar ao Picoto Cebola, alguma chuva e vento para que o desacerto da meteorologia não seja tão grande (a ironia e altitude a fazer das suas) Atingido o pico Descida ainda em estradão, interrompida por um pequeno planalto em alcatrão seguida de novo por uma descida de tal forma inclinada que me faz pensar que seria um belo sítio para uma rampa de ski. Uma bela cascata e distração com a conversa quase a chegar à Fórnea fazia-me sair do percurso não fosse um grito pronto que é sempre bem-vindo quando se falha a marcação. Saídos da Fórnea com a promessa de Bífanas e outras iguarias no próximo abastecimento pois ali sopa já não havia fizemo-nos à estrada e digo mesmo alcatrão percorrendo talvez a maior extensão deste tipo de terreno interrompido apenas pela berma para acalmar os pés e por um trilho descendente que finalmente nos devolvia ao piso da natureza e permitia-nos chegar à Fórnea onde iríamos finalmente "almoçar", retemperando forças para a terceira grande subida. E que subida, sei que vou apanhar pior brevemente mas assim como há situações em que não devemos olhar para baixo, aqui não olhes para cima pois a tentação de voltar ao abastecimento leia-se para trás pode ser maior. Bom, um passo de cada vez arrefecido por alguma chuva miúda que regressa para fazer companhia e apaziguar os metereologistas atingimos o cume junto as eólicas onde os percursos novamente se juntam ainda que por breves quilómetros numa descida que permite recuperar e pensar se havemos de ir com a malta dos 25K já para o Piodão ou virar à esquerda para o Colcurinho. O sinais do corpo eram bons e virei à esquerda, para poucos quilómetros depois voltar a arrepender é que o tempo fechou, a temperatura baixou e caiu granizo empurrado de vento forte e com trovoada à mistura pelo menos um relâmpago que me pareceu atingir uma eólica que viria a servir de abrigo a uns quantos e fazer-me pensar se devia voltar para trás. Não fosse os companheiros de corrida dizer que ali é que não podíamos ficar pois a hipotermia não se faz a anunciar e para a frente é que é caminho, teria regressado logo. Depois de um encadeamento de eólicas chegamos de novo a um estradão quase plano em que aí é que foi correr o mais rápido possível para nos mantermos quentes. O sprint só foi interrompido por uma curva apertada à direita e nova subida curta mas parecia interminável ao Colcurinho onde se encontrava o último abastecimento. Pena o tempo não permitir contemplar a paisagem, pena não ter visto a lareira no abastecimento. O tempo lá acalmou e lá descemos a menor ritmo entre não trilhos, trilhos e estradão até à Foz d'Égua onde o rio já bem ruidoso se faz ouvir e a placa que indica Piodão 2,8 Km me faz pensar que está quase. Mas está bem ou quase, foram talvez os 2,8 Km mais longos da minha vida. A subida é ligeira mas a ansiedade de terminar e o cansaço acumulado parecem fazer o tempo e distância congelar. Das poucas vezes em que a chegada ao cemitério é bom sinal pois a meta é logo ali, mas não sem mais uma subidinha ao largo da vila para não esquecer que para ali chegar por muito se teve de passar.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

MIUT 85K 2018 2/2

Abutres 2018 50K